"Ver o mundo num grão de areia, E o paraíso numa flor silvestre, Ter o infinito na palma da tua mão, e a eternidade numa hora."
(William Blake)

sábado, 2 de julho de 2011

Lenda do Tsuru



"Era uma vez um camponês muito pobre. Vivia em uma cabana tosca e seu único alimento eram algumas verduras que colhia de sua terra cansada. Um dia, ele encontrou uma garça machucada, com a asa destroçada. Por isso ela não podia voar e buscar alimento: isto a deixou muito fraca, à beira da morte. 
O camponês teve pena da garça, cuidou de sua asinha e pacientemente colocou em seu bico algumas sementes. Sua bondade a livrou da morte e quando ela pôde voar, o camponês a soltou. 
Alguns dias depois, uma mulher adorável apareceu em sua casa e pediu que lhe desse abrigo por uma noite. 
O camponês, por ser bom, não negaria esta caridade a qualquer pessoa, mas a beleza da mulher fez com que ele acreditasse que deixá-la dormir em sua pobre cabana era realmente uma honra. Os dois se apaixonaram e se casaram. 
A noiva era delicada, atenciosa e tinha tanta disposição para o trabalho quanto era bonita, e assim eles viviam muito felizes. Mas para o camponês, que já tinha muita dificuldade em viver sozinho, ficou muito difícil cobrir as despesas que sua nova vida de casado lhe trazia. 
Preocupada com esta situação, a esposa disse ao marido que produziria um tecido especial (tecer era um trabalho comum para as mulheres nessa época). Ele poderia vendê-lo para ganhar dinheiro, mas ela alertou que precisaria fazer seu trabalho em segredo, e que ninguém, nem mesmo ele, seu marido, poderia vê-la tecer. 
O homem construiu uma outra pequena cabana nos fundos de sua casa e lá ela trabalhou, trancada, durante três dias. O marido só ouvia o som do tear batendo, e a curiosidade e a saudade que tinha de sua bela mulher fazia com que estes dias demorassem muito para passar. 
Quando o som de tecelagem parou, ela saiu com um tecido muito bonito, de textura delicada, brilhante e com desenhos exóticos. A tecelã lhe deu o nome de “mil penas de Tsuru”. 
Ele levou o tecido para a cidade. Os comerciantes ficaram surpreendidos e lutaram entre si para consegui-lo. O vendedor pagou com muitas moedas de ouro por ele. O pobre homem não podia acreditar que tão de repente a sorte começasse a lhe sorrir. 
Desde então, a esposa passou a trabalhar no valioso tecido outras vezes. O casal podia, com o fruto da venda, viver em conforto. A mulher, porém, tornava-se dia após dia mais magra. 
Um dia, ela disse que não poderia tecer por um bom tempo. Ela estava muito cansada. Seus ossos lhe doíam e a fraqueza quase a impedia de ficar em pé. 
O camponês a amava muito e acreditava naquilo que ela dizia, porém tinha experimentado a cobiça e, como havia contraído algumas dívidas na cidade, pediu para que ela tecesse somente por mais uma vez. No princípio ela não a ceitou, mas perante a insistência do marido, cedeu e começou a tecer novamente. 
Desta vez ela não saiu no terceiro dia, como era de costume. E o homem ficou preocupado. Mais três dias se passaram sem que ela aparecesse. E isso começou a deixar o marido desesperado. 
No sétimo dia, sem saber mais o que fazer, ele quebrou sua promessa, espiando o serviço de tecelagem que ela fazia. 
Para a sua surpresa, não era sua mulher que estava tecendo. Arqueada sobre o tear encontrava-se uma garça, muito parecida com aquela que o camponês havia curado. 
O homem mal pôde dormir à noite, pensando o que teria acontecido com a mulher que amava. Amaldiçoava-se por ter sido insaciável e praticamente ter obrigado a sua querida esposa a tecer mais uma vez. 
Na manhã seguinte, a porta da cabaninha se abriu e o camponês com o coração aos saltos fixou seus olhos na porta, esperançoso em ver sua esposa sair dela com vida. 
A mulher saiu da cabana com profundas olheiras, trazendo o último tecido nas mãos trêmulas. Entregou-o para o marido e disse: Agora preciso voltar, você viu minha verdadeira forma, assim eu não posso ficar mais com você! 
Então, ela se transformou em uma garça e voou, deixando o camponês em lágrimas."

3 comentários:

  1. Nossa que lindo, cheguei a chorar, lindinho mesmo.

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  2. Maria Alice, não conhecia esta lenda. Maravilhosa. Sabe o autor? foi você que escreveu? Bjs

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